Esta semana venho falar-vos do II Fórum Transição para a Reforma: Desafio às Organizações e às Pessoas, que decorreu no dia 23 novembro nas instalações da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, com a moderação do Dr. Júlio Machado Vaz em dois painéis de debate, num total de 12 oradores especialistas, autarcas, academicos e empresários de renome.
A conversa foi centrada, na necessidade de mudança da forma como pensamos, sentimos e agimos em relação à idade e ao envelhecimento, bem como no papel que as organizações e instituições públicas devem ter na promoção positiva da longevidade.
Em primeiro lugar, quero felicitar a Drª Maria Amélia Cupertino de Miranda que tem tido uma intervenção louvável no plano nacional no desenvolvimento de programas de Literacia Financeira, dirigidos a pessoas que se encontrem no período pré-reforma e reforma, através do programa “Eu e a minha Reforma”. A par da capacitação financeira, os participantes tem ainda a oportunidade de desenvolver competências digitais, que lhes permitem beneficiar das “facilidades” de utilização dos serviços digitais, nomeadamente ao nível dos serviços financeiros, ao dispor de todos os cidadãos.
No seu discurso de abertura, proferiu as seguintes ideias:
- Portugal é o 3º país mais envelhecido da europa e o 4º a nível mundial.
- São urgentes as Políticas Públicas e Sociais que melhorem a qualidade de vida dos idosos, que correspondem a 23% do total da população portuguesa.
- É premente que se invista na população que vai viver aproximadamente 1/3 da sua vida no período da reforma.
- Há cada vez menos trabalhadores ativos a contribuir para uma população cada vez maior de reformados, e com perspetiva de vida mais longeva.
- Cada um de nós tem que ser um “Agente Ativo” e cuidar da nossa área financeira, através da criação de hábitos de poupança, aquisição de conhecimentos que permitam fazer investimentos e saber usar a tecnologia em seu proveito.
- Paralelamente o mundo empresarial deve promover a intergeracionalidade, e evitar barreiras para a admissão e retenção de pessoas mais velhas.
Concluíu com a frase:
O nosso Trabalho, muda Vidas e nós já o vimos Acontecer!
Foi ainda feita a apresentação de resultado de impacto do projeto “Eu e a minha Reforma” com resultados muito positivos. O projeto já decorreu nos concelho do Porto, Vila Nova de Gaia, Maia, Matosinhos, Valongo e Santo Tirso.
Esperemos que este programa venha a ser alargado a toda a área metropolitana do Porto e num âmbito mais abrangente, a todo o território nacional, pois todos os idosos o mereceriam.
Participei presencialmente neste Fórum e fiquei muito agradada com o número elevado de participantes, o que nos leva a concluir que o tema da longevidade terá futuramente o seu papel estratégico no país.
Como eu própria já tinha referido num publicação anterior no Lkd, Questionou-se porque é que o nosso país, com as características demográficas que tem, não possuí uma secretariado de estado do envelhecimento ou da longevidade?
Porque me parece importante partilhar os temas apresentados no Fórum, para um público mais vasto, deixo resumidamente a minha perceção das principais ideias trazidas pelos Oradores:
* ISABEL DIAS – FACULDADE LETRAS UP
Envelhecimento Bem Sucedido
Enquanto investigadora, olho para o envelhecimento como uma sociedade madura, sem idade. Têm que ser criados novos conceitos mias inclusivos, “com mais idade”, sem a carga pejorativa e não como se caminhássemos em passadeira rolante para a finitude.
O envelhecimento resulta de uma trajetória de vida, trajetória profissional, envelhecimento biológico, é um processo de amadurecimento social.
É uma tendência mundial, mas tem que ser interpelada numa perspetiva local, dependente da iniciativa individual.
O moderador lançou a questão sobre “O esquecimento que se tem dado à Sageza que a vida dá aos mais velhos”
aquele que alia a virtude à sabedoria; aquele cujos juízos e cujo comportamento são inspirados e governados pela rectidão de espírito, pelo bom senso; aquele que só estima os verdadeiros bens e, por isso, vive sem as ambições, as inquietações e as decepções que perturbam a existência do homem comum; filósofo
– in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A sociedade tem que combater as tendências idadistas, porque existe um Dividendo do Envelhecimento – conhecimento e a experiência acumulada.
Quando nos queremos aconselhar, recorremos aos pais, aos avós aos mais experientes e isso é muito comum e importante em termos familiares e em termos profissionais.
As empresas têm que investir neste capital social. “Os mais velhos são o único recurso natural em crescimento”
Não se compreende porque é que os trabalhadores no auge do seu conhecimento e competência são expulsos do mercado de trabalho.
Questiono, porque é que não se recorrem a estas pessoas para criarem equipas multigeracionais, que têm uma perspetiva holística da organização e das dinâmicas do mercado de trabalho?
*MARIA ANTÓNIA CADILHE – FACULDADE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO UP
O que está a mudar o modelo de carreira profissional
Há variáveis que têm imenso impacto no conteúdo funcional em termos de Inteligência Artificial e “Machine Learning”, quer em funções mais simples, quer em funções mais complexas.
A esperança média de vida de competências tem 5 anos e começa a diminuir.
Há necessidade de criar novas carreiras. Falou de Carreiras Balísticas, carreiras Borboleta, carreiras Boomerang e Carreiras Duais.
Cada pessoa tem uma carreira própria e é passível de ter muitas combinações.
Nalgum momento da vida ocorrem “Turning Points”, por decisão própria, por extinção do posto de trabalho, por doença, por acidente de trabalho.
A responsabilidade passa por cada um e cada um tem que repensar uma nova ocupação.
E as empresas devem ensinar as pessoas a redesenharem o ciclo de vida dos colaboradores: dar mais autonomia, mais poder para agir, mas as pessoas não o sabem fazer.
Todos temos um espólio de escolaridade, do que são as nossas experiências de vida pessoais, sociais, académicas e desenvolvemos um conjunto de experiências que são transferíveis. Mas as pessoas nem sempre têm noção das suas competências.
Devemos olhar para o nosso passado, como uma Plataforma e não como um repositório.
Devemos ver as competências que me podem levar a assumir outras funções.
Devemo-nos Questionar:
- O que é que eu sei fazer?
- O que me move?
- O que é que eu gosto de fazer?
Cada pessoas capitaliza o que desenvolveu ao longo da vida
Quais as vantagens da cooperação para a interligação com as novas gerações?
As empresas que souberem tirar vantagem competitiva, têm muitos benefícios.
As carreiras devem ser construídas com mecanismos de cooperação, Programas de Duplas Geracionais a darem formação, Formação Bidirecional, o chamado “Reverse Mentoring”.
Os mais novos devem dar mentoria aos mais velhos para fomentar a cooperação entre as gerações.
*LUÍS FILIPE COELHO ANTUNES – FACULDADE CIÊNCIAS DE COMPUTADORES – UP
Vivemos num mundo mais digital. O que é que está a correr mal?
Estamos a construir uma sociedade mais digital e é urgente aprender as novas tecnologias e linguagens, porque senão acontece como o inglês; quem não o sabe é analfabeto!
O Reskilling em termos tecnológicos é conseguido, mas não na sua plenitude: um programador consegue aprender a programar, mas nunca será um nativo, nem terá as mesmas competências daqueles que sempre estudaram programação.
No futuro muitas funções serão robotizadas, mas existe uma palavra de Esperança.
Podemos continuar a apostar nas áreas sociais que são insubstituíveis. Os empregos que prevaleceram serão aqueles os à criatividade e à humanização.
*FERNANDO PAULO – VEREADOR EDUCAÇÃO E COESÃO SOCIAL – CMP
No Porto existem 227 idosos por cada 100 jovens, e estes idosos vivem sozinhos, ou com o cônjuge numa realidade de solidão, isolamento, pobreza e estereótipos associados à velhice.
Pelo espelhamento desta realidade, foi criada a Divisão Municipal de Acompanhamento do Envelhecimento e Inovação Social e existe uma Política Municipal do Envelhecimento.
Foram elencados inúmeros projetos de reconhecido mérito que foram pensados para ir de encontro a estes munícipes:
Porto. Importa-se
Estamos Juntos – Programa de Tele-Assistência
Projeto T2 – Apartamentos Partilhados
Programa Aconchego
Chave de Afetos
GasPorto
Porto de Abrigo
E está a ser desenvolvido um projeto “Roteiro de Percursos Acessíveis”
Entre outros
A cidade do Porto tem investido em projetos dinâmicos e inovadores que muito têm contribuído para a melhoria da qualidade de vida e no combate ao isolamento e solidão dos idosos!
O pais beneficiaria se estes projetos fossem replicados por todo o território. Houvessem apoios para o conseguir!
*NELSON MACHADO – FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO
Falar de Dinheiro
Para que as pessoas reformadas tenham um nível de vida semelhante ao que tinham, antes de se reformarem, exige tempo, conhecimentos e investimento.
A Segurança Social tem feito um trabalho meritório, mas é incapaz, com a realidade demográfica do país e as pressões a exigir mudanças, de solucionar um problema insolúvel.
De acordo com um estudo da OCDE, o sistema social português é o 4º melhor do mundo e o 4ª pior em termos de sustentabilidade.
A Segurança Social tem feito um trabalho competentíssimo e inovador ao longo dos anos – Falamos de Carreiras contributivas, apoios sociais, sustentabilidade, etc. Mas ela torna-se insustentável, quando se apoio no fator trabalho e os trabalhadores ativos irão ser cada vez menores.
Temos de facto um problema e não se vê ser tratado de forma sustentável!
Temos que mudar a mentalidade da nossa população, temos cada um de nós dedicarmo-nos individualmente à poupança a longo prazo, em complemento com o trabalho da Segurança Social.
O impacto individual seria positivo que fosse acompanhado com um aumento do nível de poupança do país.
Preparar a reforma, com antecedência de 10 a 15 anos, já não chega! É urgente preparar a poupança a longo prazo.
Espanha está num patamar mais desenvolvidos em termos legislativos.
O conceito de Autonomia também foi abordado, para reflexão individual:
Num estádio das nossas vidas, temos Autonomia
Num estádio seguinte, continuamos a ter Autonomia, mas precisamos de apoio
E vai haver um momento que se perde Autonomia e será preciso auxílio e se vai para um lar
*RAFAEL PEREIRA – VICE PRESIDENTE CIP – CONFEDERAÇÃO EMPRESARIAL DE PORTUGAL
Como é que a economia está a aproveitar as competências dos idosos?
O país está a tentar recrutar imigrantes, porque os nossos jovens, não querem trabalhar e tudo o que não traz valor acrescentado, perde interesse para as novas gerações.
As gerações têm características distintas, as mais novas, maior gosto e apetência pela tecnologia, as gerações mais velhas têm maior sensibilidade, bom senso, maior apetência para fazer face aos desafios que as empresas enfrentam.
Mas o mundo não se resume à tecnologia!
Pessoas com mais experiência de vida, com experiências pessoais e profissionais, foram capazes de enfrentar adversidades e têm competências para ultrapassar as crises de forma disruptiva.
As diferentes competências das diferentes gerações são fundamentais para ajudar as empresas.
Falamos de todo o tipo de diversidade e inclusão que é exigida às empresas, mas a diversidade etária é fundamental!
O papel das gerações mais velhas em termos formativos é essencial, mas existem barreiras, em termos de ordenamento jurídico que afastam e impedem que os reformados possam ministrar formação. A sociedade criou barreiras legais, que não fazem sentido.
É necessário combater o preconceito do Idadismo!
Fala-se muito da aposta que as empresas fazem na perspetiva a longo prazo:
– Não admitem trabalhadores mais velhos, porque a perspetiva de permanência de longo prazo é reduzida face à aproximação da idade da reforma
– Admitem-se jovens, que têm definidos para eles próprios, uma perspetiva de permanência a curto prazo nas organizações.
A relação contatual mudou, já não há um compromisso de permanência e as empresas veem-se confrontadas com estas duas realidades.
Enquanto Mentora que acompanha profissionais com mais de 50 anos a regressar à vida ativa, seja ela pela via tradicional de procura de emprego, quer pela via do empreendedorismo, quer pela criação de um novo projeto de vida, que complemente rendimento na reforma, este Fórum vêm trazer a público tudo o que tenho vindo a comunicar e a sensibilizar ao longo do ano de 2022.
Partilho toda o conhecimento que foi apresentado para que haja uma reflexão aprofundada sobre a realidade dos portugueses mais velhos, que se encontram no período da pré-reforma e reforma.
Dado o prestígio e o resultado alcançado pela Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, neste âmbito, sugeria que o próximo Fórum, que não têm necessariamente que ser realizado daqui a um ano, fosse replicado, mas dirigido a um público diferente daquele que estava presente.
Falamos das Associações de Referência Portugal: AEP, Associações de Comércio, AHRESP, APG – Associação Portuguesa Gestão Pessoas; ACEGE – Associação Cristã Empresários e Gestores; APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial, Economia Social, Municípios, etc
São os dirigentes e as direções de Recursos Humanos que necessitam urgentemente de mudar o “Mind Set” no sentido de modificar os programas de recrutamento e seleção e alargar os critérios no que diz respeito à diversidade etária; de promover a criação de equipas intergeracionais, de promover a retenção e a permanência dos profissionais mais velhos nas organizações, que apostem nas diferentes fases de vida dos seus colaboradores, assegurando formação, apostando na requalificação – (“reskilling e upskilling”).
Ao não se reterem ou recrutarem profissionais seniores, estamos a contribuir para a fragilização do tecido social das organizações, porque as gerações só se enriquecem se coabitarem e se viverem todas em contacto umas com as outras.
Queremos que as empresas portuguesas se tornem “Age-Friendly”, que se preocupem com todos os colaboradores de uma forma equitativa, independentemente da sua idade e diversidade.